Pesquisadora da Universidade Federal de Rondonópolis explica como cinzas de biomassa vegetal e resíduos sólidos podem recuperar solos degradados e reduzir custos de produção.
O aproveitamento de resíduos da indústria e da agropecuária vem se consolidando como alternativa para fertilização do solo no Brasil. Estudos da Fundação Getulio Vargas (FGV) indicam que a dependência nacional de fertilizantes importados chegou a 85% em 2023, pressionando os custos da produção agrícola. Nesse cenário, soluções desenvolvidas em universidades ganham espaço no campo.
A doutora em Agricultura Tropical e pós-doutoranda da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), Alessana Franciele Schlichting, explica que os resíduos podem cumprir dupla função: reduzir impactos ambientais e substituir parte dos insumos químicos. “A utilização de cinzas vegetais e resíduos sólidos da indústria em sistemas agrícolas tem se mostrado eficiente para recuperar solos degradados e melhorar a produtividade das culturas”, afirma.
De acordo com a pesquisadora, esse tipo de manejo já foi aplicado em pastagens tropicais, com resultados expressivos em nutrientes do solo e aumento na produção de forragem. “Em áreas do Cerrado, observamos que a cinza vegetal atua como corretivo e fertilizante, elevando a fertilidade e reduzindo a acidez do solo”, explica.
Além do ganho agronômico, a adoção dessa prática traz efeito econômico direto. Segundo dados do Boletim Focus, o custo dos fertilizantes representa em média 30% da estrutura de custos da produção de milho e soja. A substituição parcial por resíduos pode reduzir a dependência do mercado externo, altamente sensível à variação cambial e a crises geopolíticas.
Schlichting ressalta que a técnica não se limita às pastagens. “O uso de resíduos já foi testado em culturas como milho, soja e hortaliças, sempre com respostas positivas no desenvolvimento inicial das plantas e na disponibilidade de nutrientes”, observa.
O avanço da pesquisa busca agora padronizar processos para ampliar a aplicação em escala comercial. “Nosso foco está em transformar o que hoje é um passivo ambiental em insumo agrícola de qualidade, com protocolos técnicos que assegurem segurança e eficiência”, conclui a professora.